quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Yo no sé manaña



    Então que eu estava descendo do nosso bloco 38 para encontrar o Bruno e ela estava subindo para (subindo para o que mesmo?) e nos encontramos.
    Não é segredo para ninguém, e nem para ela, que o que tínhamos não entrava no campo da amizade. Também não pertencia ao mundo do ódio e inimizade mas, talvez, se infiltrasse no círculo de conversas de elevador, e festas de boa vizinhança. Ela não me contava sua vida em detalhes, não passavamos tardes fazendo as unhas juntas e tampouco fazíamos festas do pijama e guerras de travesseiro etc.
    Ela me disse que estava tentando uma bolsa para estudar espanhol na Argentina. "Porque você não tenta também?" Quiças - e apenas quiças - ela não imaginava que esse simples momento mantendo a função fática da linguagem traria consequências inimagináveis. Talvez não imaginasse. Talvez sim. Mas quando percebi degustava um delicioso café no aeroporto, ou ainda orava em silêncio pelo taxista que mais parecia um piloto de fórmula 1, ou ainda utilizava com maestria um bambolê, ou ainda comia um (iugh) pancho vila.
    Pois bem, o pancho vila me rendeu uma ameba (isso mesmo, eu parecia a Gang Gangrena naquele fatidico episódio das Meninas Superpoderosas), utilizei seu depilador de pernas inumeras vezes em nosso quarto - enquanto você ouvia a mesma música de novo, de novo e mais uma vez. Alguém te assaltou quando tudo o que queríamos era uma toalhinha e um copo do Ben 10, e comprar mais alguma coisa para almoçar (menos macarrão, que já comemos ontem). Passávamos tempo antes de dormir conversando sobre infancia, Borh, escola, gente feia e família (não gente feia na família).
    Foram apenas três semanas. Aquele desenho - do plano não-maquiavélico - ainda estampa uma página incerta da minha agenda, talvez eu não tenha retocado bem sua maquiagem naquele dia (culpa do vinho: argentino, ano 92, safra Abu Dabi, barril Tripa Seca etc), não estou certa sobre a melhora no meu espanhol e ainda não marcamos uma guerra de travesseiros.
    Mas na verdade nada disso importa. O que importa mesmo é que yo no sé manaña mas naqueles dias era você por mim e eu por você.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Silvio Santos e Jassa: uma dupla bem levada!



    Dai que eu pintei meu cabelo. Já fazia algum tempo que eu estava com vontade de mudar. Tentei trocar uns móveis de lugar. Nada. Tentei dormir com um ursinho de pelúcia diferente. Nada. Tentei colocar alho em pó no brigadeiro. Nada. Não dava mais para fugir, estava na hora!
    Fui loira durante um bom tempo. Comecei com luzes aos 13 anos e terminei com eles brancos - um processo que durou 8 anos. Seria possivel pintar sem lamentações posteriores? Sem tentativas de suicídio? Sem traumas eternos? Não importava, as cócegas da inconsequencia capilar já possuiam todo meu corpo.
    Caminhei (mentira, fui de carro, mas caminhei torna a coisa toda mais poética, não?) até a loja de cosméticos onde uma vendedora que em alguns minutos se tornou amiga intima da turne que fiz com terapia sexual me atendeu prontamente. Discutimos cores, marcas, catálogos, receitas de bolo e a peruca de Silvio Santos até que me decidi: loiro médio cobre. Comprei em duas vezes sem juros no cartão Visa e estava feito.
    Contei à minha mãe como uma adolescente que conta uma gravidez indesejada aos catorze anos com o entregador de gás da esquina. Ela processou as palavras como um julgamento de morte: o loiro querido e amado estava condenado. Algum tempo até a aceitação e ela concordou em fazer parte desse momento. Preparamos a tinta juntas, em silêncio. O medo e ansiedade pairando como metano de gases no ar. Foram 40 minutos da mais grandiosa mistura de sentimentos...
    E agora estou assim, ruiva. Mas o mais importante é o que surge com as mudanças cabelísticas. Só quem já fez sabe do que estou falando. E se não sabe, por favor dirija-se ao salão mais próximo.