sábado, 7 de janeiro de 2012

A pipa do vovô não sobe mais

 
Se tem uma coisa que me incomoda muito - mas muito mesmo - são pesssoas que adoram valorizar qualquer coisa que venha de fora mas não consegue ter orgulho de absolutamente nada que venha do Brasil. Que não tem o mínimo de sensibilidade para perceber que dentro do nosso país se criou uma liberdade cultural tão grande, com a criação de inúmeros estilos musicais e literários e espaço para o surgimento de gênios da arte e do saber. Não estou dizendo que devemos nos fazer de cegos e aplaudir qualquer coisa só por que é brasileira, mas é impossível imaginar que dentro de tantos feitos e criações de nossos compatriotas não exista nada que te faça se orgulhar e agradecer por pertencer à essa cultura.Vejo muita gente que diz odiar o Carnaval. Ok, ninguém é obrigado a ir nas festas e pular ao som de "Mamãe eu quero" só porque é brasileiro. Mas ninguém pode negar que os carros alegóricos do Rio e São Paulo são pura arte, os samba-enredos contando nossa história são inspiradores e que se a mesma festa ocorresse na Europa ou Estados Unidos, muitos sonhariam viajar para ver de perto essa criação popular.

O motivo do meu texto é um vídeo que havia sumido nos confins do inferno, mas retornou, com força total, ao Facebook. Eu não consigo crer que qualquer pessoa inteligente que preste atenção aos "argumentos" apresentados pela jornalista consiga realmente considera-la inteligente. Talvez o tom de autoridade que ela emprega na voz possa pegar desprevenido os mais desavisados. Mas basta uma observação mais atenta para entender que não há coerência entre as partes do discurso. Vamos a eles:

"O Carnaval tal como conhecemos, ele surgiu na Europa" - Não, tal como conhecemos, não surgiu na Europa. O que surgiu na Era Vitoriana foram as festas populares de rua. Se for pensar então todas as festas populares do mundo também terão surgido na Europa. "Adaptando-se a outras culturas" Sim, as adaptações culturais são a base para a criação de novos costumes. Se esse discurso valesse, também poderíamos supor que, se os antropóides do período Terciário batiam ossos e bastões para emitir sons, logo o samba não foi criado no Brasil, pois as batidas são derivaçoes desses sons produzidos pelos homens das cavernas.

"É uma festa popular. Balela, o Carnaval virou negócio. E quem não tem dinheiro para comprar a roupinha colorida, não tem também direito de ser feliz?" Não vou nem citar que logo a frente ela muda o discurso, dizendo que o Carnaval foi criado para enganar os pobres: "Dinheiro é pago a artistas da terra para garantir o circo à uma população miserável". Fiquei confusa se ela acredita ou não que quem não tem dinheiro tem direito a participar das festas populares. Na cabeça dela é certo ou errado o governo proporcionar uma festa de rua acessível a todos? "Ninguém sobe no trio elétrico animar o povo só por ser o Carnaval uma festa democrática" Ela realmente pensa que só porque os artistas são populares e "da terra" deveriam trabalhar e se apresentar de graça? Assim, artistas como músicos, dançarinos e animadores não deveriam lucrar com seu trabalho (acho que ela acredita que o entretenimento não é tão sério quanto seu jornalismo e não deve ser considerado emprego, não? As pessoas nem usam terninho, poxa!)

"Para atender aos bêbados de plantão" É, realmente. A bebida é um costume unicamente brasileiro e ligado apenas às comemorações de Carnaval. Outros eventos mundiais não vendem e lucram com a venda de alcoolicos.

"Onde estão essas mesmas ambulâncias quando uma mãe precisa socorrer um filho doente?" Se as ambulâncias existem na época do Carnaval, não costumam se dissolver depois das festas. Se a criança não é socorrida, é por falta de gestão e não de ambulâncias (reportagens já comprovaram que muitas ficam paradas) ou por culpa das festividades.

"Dizem até que faz girar a economia" Desculpe, mas é só digitar no Google para descobrir a quantidade de turistas do mundo todo que vem para o Brasil na época das festas. E se você se preocupa tanto com a vida dos vendedores ambulantes, pergunte a eles se são a favor de acabar com as festas de rua.

Só mais uma coisa: se você acreditasse tanto nesse seu discurso mal formulado e pífio, não estaria lendo ele, e sim, discursando livremente.

Beijos Brasil

PS: Segue o vídeo da anta histórica

http://www.youtube.com/watch?v=oLmFQxsMbN4&feature=player_embedded#!

sábado, 31 de dezembro de 2011

Acredito em 6 coisas impossíveis antes de tomar café


Último dia do ano - aliás, últimos dias do ano - fazem parte daquela época insuportável em que bilhões de coisas fervilham em nossas cabeças. Até o menor dos acontecimentos já nos leva a devaneios e loopings incontroláveis sobre a vida, nozes, listas do que fazer e porque fitinhas do Senhor do Bonfim no calcanhar deixam as pessoas 10 cm menores. Fim de ano também é época de festas, viroses de verão, confraternizações e, especialmente, formaturas.
Até alguns dias atras a coisa que mais me incomodava em formaturas era "valeu a pena ê ê sou pescador de ilusões". Sim, vocês dirão, essa música é desagradável e irritante, mas o que eu não sabia é que O Rappa chega a parecer cachorrinhos bebês frente a outras situações possíveis destes eventos.
Algumas semanas atrás fui a uma formatura de colegial. Tenho uma amiga de Maringá que já havia me avisado sobre o quão repugnante alguns adolescentes maringaenses podem ser. Eu, na minha inocência,imaginei fãs de Crepúsculo e RBD, ou ainda jogadores de RPG de mesa. Mas não. O que havia ali era muito
pior: como se saídas de uma fábrica, meninas e mais meninas de cabelo, maquiagem e vestidos praticamente iguais e uma cara de quem comeu coliformes e não gostou.
Ok, eu já frequentei todo tipo de lugares - de domingo hard core a baile funk, passando por show de freira rapper e campeonatos de jogo de damas e xadrez- pensei, e conheço diversos tipos de pessoas. Enumerei técnicas de tolerância: ignorar, rir, fazer a dança da boneca inflável... Mas quando gritei ao ouvir um nome, e duas robóticas meninas de luzes no cabelo me olharam com nojo, percebi que lidava com um tipo desconhecido de gente. Um tipo pior.
Passei cerca de uma hora vendo elas e eles subirem um a um e pegar seus diplomas. Salvo poucos, a maioria me dava a sensação de deja vú: "Essa menina já não subiu duas vezes?"; "Mas por que ela esta indo buscar outro diploma?"; "Esse não é aquele canarinho que morreu?"
Eis que, como se surgisse dos meus mais notáveis sonhos momentâneos ela apareceu: um vestido que se assimilava ao de um personagem do Alice no País das Maravilhas comprado em site chinês, uma coroa na cabeça e - pasmem! - sem o cabelo castanhocompridolisocomluzes. Quem seria essa pessoa? Como sobreviveu nesse ambiente tão hostil? Onde consigo uma bolsinha igual a dela?
Na saída uma conhecida afirmou que ela era falada. Perguntei se usava drogas enquanto corria nua pelo colégio, fazia orgia com anões albinos e publicava no facebook ou chutava cachorrinhos yorkshire. "Não. Mas ela já quis pintar o cabelo de  rosa!".
Nesse novo ano desejo a todos (todos mesmo, incluindo vizinhos do elevador e inimigos da escola) mais conteúdo e menos preocupação com as aparências. E para a moça falada, só sei que te acho louca, louquinha, perdeu um parafuso. Mas vou te contar um segredo: as melhores pessoas são.

sábado, 17 de dezembro de 2011

Se eu pudesse eu matava mil


Hoje não irei postar um texto meu, mas no qual me incluo. A autora é nada mais ou menos que Iuska Rolski, uma irmã que conheci no show da freira rapper entre uma roda de break e outra.
Nada mais. Att.


Quando eu era adolescente, eu odiava. Odiava muito, odiava com tal intensidade que me doía o estômago.Eu me enervava e implodia em pranto enfurecido porque me diziam pra não explodir. Diziam que eu não tinha o direito de explodir. Que eu devia guardar minhas opiniões para mim, que só assim respeitaria a opinião alheia. Mentiram pra mim com um discurso de compreensão e me fizeram amargar minhas raivas em nome do "respeito" ao outro.
Eu, como toda adolescente (deveria ser), era uma revolucionária, tinha opiniões sobre quase tudo -boas opiniões como vejo hoje em dia. E por ser uma revolucionária aprendi a odiar a palavra MORALISTA. Não havia como escrever essa palavra em letras minúsculas, ela era meu maior inimigo, me inspirava ódio e me causava medo, e eu não teria medo de palavras minúsculas, eu era corajosa. Meu único medo na adolescência, e posso dizer com segurança, era ser chamada de MORALISTA, e por ter pavor disso parei de bradar minhas convicções, porque sempre poderia haver alguém que pudesse considerá-las MORALISTAS.

Então eu cresci, entrei na universidade e conheci uma amiga,uma irmã, a quem chamavam de MORALISTA, e percebi que eu compartilhava dos valores daquela destemida. Foram quatro anos de desconstruções em mim, de rearranjos até o que sou hoje. Hoje me chamam moralista, mas não é maiúscula a palavra. Me chamam de moralista porque hoje não tenho vergonha odiar o que odeio. Não tenho medo de reprovar abertamente o que reprovo internamente. Me chamam de moralista porque acho que drogas são um desserviço para o ser, mais uma forma de alienação disfarçada de liberdade. Me chamam assim porque tenho senso de preservação da vida, porque acredito ser desesperadoramente necessário pensar no futuro enquanto humanidade,porque sei que viver como se não houvesse amanhã é egoísmo, porque acho que o exemplo é a única coisa que se pode deixar para alguém,por mais vago que isso seja. Sim, eu desprezo os comportamentos que vejo sendo despreocupada e alienadamente reproduzidos. Meu desprezo pelo nocivo, pelo inconsequente e pelo inútil me faz moralista?

Eu não me importo com a resposta, na verdade, pois só eu sei das batalhas que enfrento contra tantas coisas realmente reacionárias, contra valores podres. A quem me chamar de moralista, apenas uma resposta caberá: Aham,Claudia.Senta lá.

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Yo no sé manaña



    Então que eu estava descendo do nosso bloco 38 para encontrar o Bruno e ela estava subindo para (subindo para o que mesmo?) e nos encontramos.
    Não é segredo para ninguém, e nem para ela, que o que tínhamos não entrava no campo da amizade. Também não pertencia ao mundo do ódio e inimizade mas, talvez, se infiltrasse no círculo de conversas de elevador, e festas de boa vizinhança. Ela não me contava sua vida em detalhes, não passavamos tardes fazendo as unhas juntas e tampouco fazíamos festas do pijama e guerras de travesseiro etc.
    Ela me disse que estava tentando uma bolsa para estudar espanhol na Argentina. "Porque você não tenta também?" Quiças - e apenas quiças - ela não imaginava que esse simples momento mantendo a função fática da linguagem traria consequências inimagináveis. Talvez não imaginasse. Talvez sim. Mas quando percebi degustava um delicioso café no aeroporto, ou ainda orava em silêncio pelo taxista que mais parecia um piloto de fórmula 1, ou ainda utilizava com maestria um bambolê, ou ainda comia um (iugh) pancho vila.
    Pois bem, o pancho vila me rendeu uma ameba (isso mesmo, eu parecia a Gang Gangrena naquele fatidico episódio das Meninas Superpoderosas), utilizei seu depilador de pernas inumeras vezes em nosso quarto - enquanto você ouvia a mesma música de novo, de novo e mais uma vez. Alguém te assaltou quando tudo o que queríamos era uma toalhinha e um copo do Ben 10, e comprar mais alguma coisa para almoçar (menos macarrão, que já comemos ontem). Passávamos tempo antes de dormir conversando sobre infancia, Borh, escola, gente feia e família (não gente feia na família).
    Foram apenas três semanas. Aquele desenho - do plano não-maquiavélico - ainda estampa uma página incerta da minha agenda, talvez eu não tenha retocado bem sua maquiagem naquele dia (culpa do vinho: argentino, ano 92, safra Abu Dabi, barril Tripa Seca etc), não estou certa sobre a melhora no meu espanhol e ainda não marcamos uma guerra de travesseiros.
    Mas na verdade nada disso importa. O que importa mesmo é que yo no sé manaña mas naqueles dias era você por mim e eu por você.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Silvio Santos e Jassa: uma dupla bem levada!



    Dai que eu pintei meu cabelo. Já fazia algum tempo que eu estava com vontade de mudar. Tentei trocar uns móveis de lugar. Nada. Tentei dormir com um ursinho de pelúcia diferente. Nada. Tentei colocar alho em pó no brigadeiro. Nada. Não dava mais para fugir, estava na hora!
    Fui loira durante um bom tempo. Comecei com luzes aos 13 anos e terminei com eles brancos - um processo que durou 8 anos. Seria possivel pintar sem lamentações posteriores? Sem tentativas de suicídio? Sem traumas eternos? Não importava, as cócegas da inconsequencia capilar já possuiam todo meu corpo.
    Caminhei (mentira, fui de carro, mas caminhei torna a coisa toda mais poética, não?) até a loja de cosméticos onde uma vendedora que em alguns minutos se tornou amiga intima da turne que fiz com terapia sexual me atendeu prontamente. Discutimos cores, marcas, catálogos, receitas de bolo e a peruca de Silvio Santos até que me decidi: loiro médio cobre. Comprei em duas vezes sem juros no cartão Visa e estava feito.
    Contei à minha mãe como uma adolescente que conta uma gravidez indesejada aos catorze anos com o entregador de gás da esquina. Ela processou as palavras como um julgamento de morte: o loiro querido e amado estava condenado. Algum tempo até a aceitação e ela concordou em fazer parte desse momento. Preparamos a tinta juntas, em silêncio. O medo e ansiedade pairando como metano de gases no ar. Foram 40 minutos da mais grandiosa mistura de sentimentos...
    E agora estou assim, ruiva. Mas o mais importante é o que surge com as mudanças cabelísticas. Só quem já fez sabe do que estou falando. E se não sabe, por favor dirija-se ao salão mais próximo.